O estresse como indutor do câncer de pele
Cada vez mais acumulam-se as evidências da influência deletéria do estresse sobre o funcionamento de todos os setores do organismo. Pesquisadores nas mais diversas áreas dedicam-se à busca das comprovações científicas dessa interrelação para convencer-se e convencer aqueles que insistem no antigo modelo de ser humano exclusivamente como uma máquina.
Apesar de nenhuma pessoa ser destituída de pensamentos, emoções e sentimentos, esses resistentes, apegados a um paradigma superado, teimam em desconsiderar esses aspectos como integrantes de um sistema corpo-mente já sobejamente demonstrado pelas pesquisas em psiconeuroimunologia.
A observação atenta do que as pessoas contam com relação às doenças mostra que as facetas não físicas estão presentes em todos os estados doentios e, do mesmo modo, no estado de saúde. A tal ponto que é difícil acreditar que algum distúrbio seja exclusivamente restrito à esfera corporal. Mesmo porque a maior parte da atividade mental é inconsciente e ninguém se dá conta de todos os pensamentos que podem ter antecedido alguma alteração orgânica.
Doenças psicocutâneas
Muitas doenças da pele são hoje reconhecidas como psicocutâneas, ou seja, resultam de uma interação entre mente e pele. Algumas surgem por fenômenos primariamente mentais e cerebrais, outras envolvem a mente como conseqüência do prejuízo estético ou do mal-estar que causam.
Grande número de pesquisadores busca desvendar os caminhos que o estresse físico e mental segue para dar origem a distúrbios na pele. Entre eles o mais grave é o câncer cutâneo, expressão de um desequilíbrio tão intenso que era difícil acreditar que a mente tivesse o poder de desorganizar a tal ponto as estruturas da pele .
Experiência: estresse como indutor do câncer
Trabalho convincente foi realizado pelo Dr. Francisco Tausk, dermatologista argentino, que desenvolve suas pesquisas no departamento de Dermatologia da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA.
Para observar o papel do estresse na facilitação do progresso do câncer, o pesquisador colocou 40 ratos em condição de estresse físico num tubo cônico, ventilado, por 60 minutos, em compartimentos separados, nos quais havia, como elemento de estresse psicológico, o odor da urina da raposa, que é predadora dos ratos.
Isso gerava temor nos ratos de que seu inimigo estivesse por perto e eles corressem o risco de ser atacados. Outros 40 ratos formaram um grupo de controle, que foi mantido separado sem a percepção do odor da raposa.
Todos os ratos foram expostos à radiação ultravioleta B três vezes por semana. Após 21 semanas do início da exposição, 35% dos ratos estressados tinham pelo menos um tumor na pele e somente 7% dos ratos do grupo de controle. Este resultado indica forte aceleração no desenvolvimento de tumores entre os ratos submetidos a estresse.
No estudo microscópico dos tumores, Tausk, que publicou o trabalho em dezembro de 2004 no Journal of the American Academy of Dermatology, concluiu que os estressores psicossociais desempenham papel significativo na função da pele por meio de efeitos sobre a circulação, sobre as células inflamatórias locais e as células apresentadoras de antígeno e sobre a pigmentação, além da perda de água transepidérmica e perturbação no mecanismo de reparo do DNA, diminuição da citólise de células transformadas ou alteração do reconhecimento de células mutantes pelo sistema imunitário. Por meio desses efeitos, os estressores funcionam como facilitadores da instalação de câncer de pele.
Confirmação
Esse trabalho confirma o que pesquisas anteriores já haviam descoberto: o estresse é um fator de perturbação do equilíbrio orgânico e atua diminuindo drasticamente o rendimento do sistema imunitário e, através dele, a capacidade de funcionamento de todos os tecidos.
Também age no núcleo das células por meio dos mensageiros químicos, modificando a estrutura do RNA mensageiro, o que pode dar origem a uma linhagem de células anormais. Seu papel sobre a pele é de facilitação da capacidade cancerígena dos raios ultravioleta e de intensificação do desenvolvimento do câncer de pele.
Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista Sócio Titular da SBD
Dr. Roberto Barbosa Lima
Médico Dermatologista
Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
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