Alterações dos nervos cutâneos devido ao estresse
Progressivamente vão surgindo comprovações de alterações bioquímicas e anatômicas na pele por influência do estresse. Em artigo publicado em 1992, quando se começava a ligar o sistema neuroendocrinoimunológico a quadros clínicos cutâneos, não havia ainda demonstrações materiais dos efeitos do estresse na pele.
Com o estado dos conhecimentos daquela época, escrevemos: “Embora ainda pouco esteja comprovado no campo da psiconeuroimunologia no que se refere às doenças da pele, as evidências clínicas e as descobertas no funcionamento cerebral, na influência do estresse, da depressão, da ansiedade e da melancolia e na ação dos sistemas imunitário e endócrino levam a crer que a relação entre psiquismo e dermatoses seja muito mais ampla do que vinha sendo considerado até agora. A competência em lidar com as emoções pode ser o aspecto decisivo para o surgimento de muitas doenças e para o êxito de muitos tratamentos” (Azambuja R. An bras Dermatol, 1992).
Crescimento dos nervos
Hoje, sabe-se que o estresse pode provocar coceira, exacerbar doenças inflamatórias, retardar a cicatrização de feridas e levar à inflamação neurogênica.
Uma experiência levada a efeito por Eva Milena J. Peters e colaboradores, Universidade Charité, de Berlim (Brain, Behavior, and Immunity, 19:252-262,2005) mostrou como a inervação da pele se modifica sob estresse. Os pesquisadores submeteram um grupo de ratos a estresse por produção de um som na freqüência de 300 hertz em intervalos regulares quatro vezes por minuto. Esse grupo foi comparado a outro, que não recebeu o som estressante.
Foi verificado, nos ratos estressados, aumento, na derme, do número de fibras nervosas, sob a forma de terminações livres ou inervando vasos sanguíneos. Também foi observado maior número de contatos entre fibras nervosas e mastócitos (células capazes de provocar inflamação na pele), além de outras características indicativas de dano à pele.
Os autores concluem que a exposição ao estresse leva a um “estado de alerta” da pele com exaltação da capacidade de resposta do sistema imunitário local. Este fato é potencialmente benéfico no indivíduo sadio, mas agrava estados doentios da pele nos quais a inflamação neurogênica tem papel significativo.
Consequência para a terapêutica
Essa demonstração tem importante conseqüência para a terapêutica de certas dermatoses, aquelas consideradas psicossomáticas, e aquelas cujo curso é influenciado pelo estresse. Se há alterações da distribuição e do funcionamento dos nervos da pele, o tratamento tem que levar em consideração esse fato, porque ele faz parte do quadro clínico.
Não é mais o caso de considerar-se que o estresse é ruim, mas não é preciso fazer nada contra ele ou, no máximo, prescrever um calmante. É preciso realmente interferir nas elaborações mentais e dar apoio para a criação de pensamentos que suprimam estas reações e a produção de neuromediadores inflamatórios.
Como se sabe da observação clínica, muitos pacientes obtêm melhora simplesmente quando se desligam das preocupações. Com os novos dados, que vêm surgindo das pesquisas, pode-se admitir que recursos psicológicos e outros, que simplesmente promovam o relaxamento e a tranqüilidade, têm efetiva ação na diminuição da inflamação neurogênica e na desgranulação dos mastócitos e, portanto, na facilitação da cura de dermatoses agudas ou no controle de dermatoses crônicas, como a psoríase e a dermatite atópica.
Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista Sócio Titular da SBD
Dr. Roberto Barbosa Lima
Médico Dermatologista
Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
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