Acne e estresse
Todas as pessoas desenvolvem mecanismos inconscientes para se dar vazão à energia das tensões que se formam no organismo. É observação comum, e bem conhecida de todos, que, em fases de tensão emocional, adolescentes com acne descarregam essa tensão espremendo os cravos e espinhas do rosto e das costas. Com muita freqüência, isso se torna um hábito como o de roer unhas.
Ao assim agir, a pessoa passa a multiplicar as lesões infeccionadas, transmitindo os germes de um local a outro e aumentando o comprometimento de sua pele. Ela só vê o resultado, pois o ato de espremer é automático.
Acne escoriada
Há mesmo as pessoas que são tomadas de verdadeira compulsão de espremer as espinhas de modo que chegam a provocar ferimentos no rosto, tal a intensidade com que agem e a repetitividade de seu gesto. São geralmente pessoas muito tensas, que encontram nessa atitude uma maneira de aliviar o estresse. Criam, com isso, um quadro bastante impressionante em que, além da presença das alterações típicas da acne, há também verdadeiros ferimentos superficiais da pele. É o que se chama acne escoriada.
Nessa situação, não adianta somente tratar a pele. É preciso incluir algum tipo de psicoterapia ou de reprogramação mental, para que a pessoa aprenda a reduzir a tensão e superá-la com outro comportamento.
O estresse na gênese da acne
A Dra. Monica Polenghi, da Itália, publicou trabalho sobre acne e estresse em que buscou evidências de que a acne poderia ser desencadeada por estresse, personalidade, humor e ativação do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal. Aplicando quatro métodos de avaliação psicológica, verificou que é comum a ocorrência de um evento estressante antes do início de um quadro de acne mais intenso. Também observou que a acne se desenvolve particularmente em pessoas com traços de personalidade depressiva e conformista além de agressividade e, particularmente, ressentimento e irritabilidade.
É óbvio que a acne não é exclusivamente devida a isso. Na sua patogenia estão envolvidos genética, hormônios, enzimas, às vezes fatores alimentares e climáticos. Entretanto, o estresse é um elemento que pode, em certas circunstâncias, tornar-se decisivo.
Acne e estresse: como ocorre o estímulo?
A relação entre acne e estresse tornou-se mais clara com a pesquisa levada a efeito em Berlim, publicada em maio de 2002, na qual foi descoberto que as glândulas sebáceas da pele, componentes do folículo pilo-sebáceo, que é a unidade anatômica onde se desenvolve a acne, possuem receptores para neuropeptídios e são acionadas por uma via equivalente à do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal.
O hormônio de liberação da corticotropina, um mediador segregado pelo hipotálamo e acionado especialmente em situações de estresse, é biologicamente ativo nas células sebáceas e induz um aumento na síntese dos lipídios sebáceos. Esta é uma etapa preliminar na formação da lesão básica da acne, o comedão (cravo).
Essa descoberta esclarece que existe uma razão fisiológica, para que o estresse intensifique a acne. Como em todos os processos psiconeuroimunológicos, o estímulo parte do nível mental, passa pelo hipotálamo e segue pelos mensageiros químicos hormônio liberador da corticotrofina, hormônio adrenocorticotrófico, adrenalina e cortisol.
À medida que as pesquisas se aprofundam na comunicação entre as células e que os aparelhos de investigação se tornam mais sensíveis, vai tornando-se possível comprovar a maneira como a mente interfere nos processos corporais. Nos próximos anos, fatos surpreendentes devem ser revelados, sendo provável que se torne evidente que a participação dos pensamentos na geração e na cura das doenças seja muito mais ampla do que se imagina no momento.
Apesar de a acne ser um quadro clínico de aparecimento comum e regular em certa idade, desencadeado pela presença do hormônio sexual masculino, a influência do psiquismo se faz sentir em certas condições e efetivamente modifica seu aspecto, mostrando que acne e estresse estão bastante relacionados.
Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista Sócio Titular da SBD
Dr. Roberto Barbosa Lima
Médico Dermatologista
Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
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